sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Relato Geral: Saiba como foi a II SEMANA CANNABICA DE SANTOS E REGIÃO




Santos na luta: Por um debate amplo sobre a política de drogas

Entre os dias 7 e 14 de setembro desse ano aconteceu na Baixada Santista a II Semana Canábica. Assim como na primeira edição, no ano passado, o evento reuniu psicólogos, educadores, poetas, rappers, feministas, jornalistas, historiadores, estudantes, militantes e outros interessados nas discussões sobre as políticas de drogas.
No sábado, 7 de setembro, a atividade de abertura da semana foi na cinemateca de Santos Maurice Legeard, com a exibição do filme “Requiém para um sonho”, que aborda a complexidade da questão das drogas mostrando diferentes tipos de vícios e como a sociedade lida com cada um deles. Na sequência, o coletivo Marcha da Maconha Santos e o público presente debateram sobre os interesses econômicos e políticos que decidem quais substâncias devem ser demonizadas e proibidas, quais devem ser liberadas e incentivadas e como a saúde e o cuidado estão longe dessas intenções.

Segunda-feira, 9 de setembro, começou o ciclo de debates com o tema “Panorama do consumo e repressão: as drogas como bode expiatório do extermínio da pobreza”, que contou com a presença do rapper Mano Shabba (projeto Mao Negra RZ) e do poeta Akins Kintê. Ambos abordaram a questão do racismo, não apenas na origem da proibição da maconha, mas também nos dias atuais, onde a repressão às drogas afeta principalmente a população negra e pobre. Também presente no debate, Débora, integrante fundadora do movimento Mães de Maio, até hoje cobra da justiça uma resposta para os centenas de jovens mortos nas periferias da Baixada Santista em 2006 e em todo o Estado nos anos seguintes: “As mortes na periferia por parte do Estado ficam todas na conta do tráfico de drogas”, destacou ela. O mediador do debate foi o arte-educador Tubarão Dulixo, integrante do coletivo Marcha da Maconha Santos.
Quarta-feira, 11 de setembro, o debate foi no Guarujá, na Biblioteca Libertária Carlo Aldeghery. A pequena sala ficou lotada e o clima foi acolhedor, quase de bate-papo de boteco, mas com uma densidade inevitável ao tratar de uma problemática social complexa e opressora. Beto Volpe, que convive com o vírus HIV e com toda a militância em questões que envolvem essa condição há mais de 24 anos, deu um depoimento de força que ao mesmo tempo comoveu, empoderou e informou o público presente. Em seguida, Luiz Carlos também fortaleceu a resistência individual de cada um dentro da sala ao compartilhar sua história de vida, com seus vícios, dificuldades e conquistas. Em meio a diversas afinidades de grupo, a psicóloga Marília Capponi compartilhou questões pessoais e profissionais, em meio a difícil tarefa de cuidar dos problemas que o Estado tenta esconder. Gigi Annie Louise, também psicóloga e mediadora do debate, trouxe um pouco de sua experiência na atuação com dependentes químicos no Caps de Suzano. O que todas as falas desse dia trouxeram em comum foi a questão da redução de danos, seja no uso da maconha medicinal, na substituição de drogas mais danosas pelas mais leves, ou ainda no uso de substâncias alteradoras de consciência com conhecimento e informação. 


Na sexta-feira, 13 de setembro, foi a nossa reunião das bruxas: “Maconha e aborto: direito ao nosso corpo. Formas de controle e coerção da liberdade por parte do Estado”. A proposta foi exatamente de unir a questão de gênero com a opressão do Estado em cima de liberdades individuais, como o consumo de drogas. Márcia Balades, da Liga Brasileira de Lésbicas, explicou que esses temas estão relacionados porque em ambos os casos a proibição causa mais danos e mortes do que o objeto proibido – a maconha ou o aborto. Na sequência, Terezinha Vicente, militante da Marcha Mundial das Mulheres, ressaltou a importância das liberdades individuais, trazendo dados históricos referentes a relação entre mulheres e drogas. Por fim, o jornalista Mauricio Becerra, do jornal chileno El Ciudadaño, criticou a medicalização de usuários de drogas que vem sendo feita no Chile, explicando que é importante que não se trate a questão no âmbito da segurança e da polícia, mas que também não se trata de problema sério de saúde, necessariamente.O debate foi mediado pela jornalista Marcela Mattos, também integrante da Marcha em Santos. 
 
No sábado, 14 de setembro, a proposta foi fazer uma festa colaborativa, com microfone aberto e espaço livre para expressões artísticas. O Centro dos Estudantes de Santos foi gentilmente cedido como palco para que diversos músicos – profissionais, amadores ou incidentais – se expressassem e mandassem seu recado. E o som que começou tímido acabou se estendendo por horas, revelando entrosamento não só nas ideias como na expressão artística abstrata.

Como a semana foi produzida totalmente no esquema Do It Yourself (ou Faça-você-mesmo), vale ressaltar a importância da festa de abertura, realizada em 31 de agosto, também no Centro dos Estudantes. Na festa foi arrecadado todo o dinheiro necessário para cobrir os custos da semana, através da entrada de R$6, da venda de bebidas no bar e também da rifa de um kit da SoulGreen. Tudo isso não seria possível sem a colaboração da MC Luana Hansen e sua equipe, da banda Laboratório Livre de Experimentações Musicais, da família Futuráfrica, do pessoal da gestão e da ocupação cultural do CES e de todos os outros espaços cedidos, além de diversos outrxs parceiros que acreditaram no evento e fortaleceram a II Semana Canábica.

Mas a luta não acaba aí. A “guerra às drogas” continua matando pessoas e queimando uma boa quantidade de dinheiro público diariamente. Diversifique suas fontes de informação, valorize os debates em comunidades, fortaleça seus grupos de afinidades. Ampliar a rede de comunicação é só o primeiro passo, a resistência é o caminho!

 Marcha da Maconha Santos (marchamaconhasantos@gmail.com)



Veja a cobertura fotográfica completa no perfil da Marcha da Maconha Santos no facebook:
 https://www.facebook.com/marchadamaconhasantos?ref=stream

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